Diversidade é o sangue da Vida

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Recentemente viajei para dois Estados do Brasil. Sai do interior do RS para renovar meu visto americano no Rio de Janeiro. Dias após, fui passar minhas férias em Porto de Galinhas, na cidade de Ipojuca, em Pernambuco.

Ao retornar ao consultório, tive um diálogo muito interessante com uma paciente , procedente do Amapá. Ela me repetia que o  gaúcho “se achava”, ” era muito fechado”, sempre fazendo as mesmas coisas. Ela passava o ano inteiro esperando as férias para retornar à sua terra e visitar os parentes, com quem se sentia acolhida e feliz.

Essas experiências me fizeram refletir. Nossa tendência inicial é defender as nossas origens, como qualquer um defende a sua ideologia política, a sua formação acadêmica e profissional, o seu ” background”, a sua  pretensa procedência especial. Mas isso é uma ilusão produzida pelo orgulho. Posso ser orgulhoso da minha naturalidade gaúcha, mas isso é insuficiente para esconder as falhas que negava  a respeito das características do meu Estado natal.

Para contrabalançar o viés de que ”  a grama do vizinho é mais verde”, posso identificar as qualidades e os “defeitos” dos outros povos, tanto no território nacional , como no exterior. Penso que não são “defeitos”, mas d i f e r e n ç a s!  E diferenças não são necessariamente coisas incompatíveis, se soubermos aproveitar as vantagens que elas  agregam em nossas vidas.

Viajar amplia a nossa percepção, se estivermos imbuídos do espírito de tolerância e estivermos interessados em absorver as novas culturas. Viajar não amplia a vida de quem viaja para criticar. Mas quem aceita o mundo nas suas diferentes belezas, pode enriquecer o seu próprio mundo interior com paisagens renovadas, aromas, sotaques, hospitalidade, atenção e mesmo através dos supostos ” defeitos ” alheios.

Não consegui deixar de contrastar as culturas. E como vivemos num mundo globalizado, essa coisa de ufanismo e defesa da própria terra, sem propósito, como uma guerra, que não tem  propósito algum, fica fora da modernidade. É coisa mofada, é coisa arraigada não como raízes vivas, mas como ervas-daninhas.

O Rio de Janeiro me surpreendeu positivamente. Pernambuco me surpreendeu positivamente. E posso concordar com a minha paciente, sim “os gaúchos se acham”. Você tem razão, o fato de serem mais fechados  e viciados em trabalho não os faz melhores do que ninguém.

A propósito, eu nasci no RS, mas sou cosmopolita. Anotem. Discordo de várias coisas no RS, a começar pela cara fechada, a conversa retraída, a propalada “politização”. Vivemos ainda das glórias do passado histórico, contado na versão local. Não vou começar a malhar os defeitos do Estado, nem as deficiências no transporte de Porto Alegre. Mas elas existem. Trabalhar demais ou ” parecer trabalhar demais” é uma tremenda bobagem. A vida também é praia, mar, camarão fresco, lagosta, água de coco, paisagens exuberantes e o sol tostando a pele.

E ainda existe  mais mundo lá fora do país para ser visitado. Não espere a tão sonhada aposentadoria para começar a viajar. Quem não viaja, morre a cada dia, soterrado pelo pensamento velho, socado dentro da mente, cheio histórias recontadas e requentadas, do orgulho ultrapassado, da altivez ridícula,  enquanto o mundo progride e se moderniza.

Sou brasileiro e cosmopolita. Nasci no RS, mas não sou  um daqueles que pensa valer mais do que os outros. Para quem serviu o chapéu, você precisa viajar mais.  Para quem não se ofendeu, já deve ter viajado o suficiente para entender o meu ponto de vista aqui. O espírito divisionista que perdura no nosso Estado é uma verdadeira asneira. Se você quer só a região Sul, eu não abro mão das belezas do Sudeste, do Nordeste e das outras regiões que ainda vou conhecer e me encantar.

Viajar e levar consigo o preconceito, as manias e as preferências é perder a oportunidade de interagir com outras pessoas, aprender novas línguas, comer comidas exóticas, derrubar ideias preconcebidas( implantadas  por quem nunca viajou) e voltar uma pessoa melhor, mais interessante e mais feliz.

Antes de pedir o seu churrasco, coma um camarão. Antes de tomar um  suco de laranja , ouse se deliciar com um suco de açaí! Antes de ficar se congelando nas praias do RS ou mesmo SC, esquente-se nas praias do Nordeste. Saia da piscina artificial do seu clube e descanse nas piscinas naturais cercadas de arrecifes. Deixa esse português agauchado, as bombachas e arreios e desenferruje o seu inglês, francês , italiano e espanhol.

A vida é muito curta para ficar estagnado dentro dessa prisão mental , ano após ano, com as mesmas pessoas, as mesmas conversas e os mesmos lugares.

Onde há diversidade, o sangue da vida e da natureza correm irrestritos. E sem sangue nas veias e na vida, você já está morto.

 

 

 

 

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